quinta-feira, 29 de março de 2012

Elizabeth


Nas imagens da casa onde nasci, lembrança, vejo minha irmã lendo num canto do quarto. Sempre, todo dia. Era assim. Livros empilhados por todos os lados. Tudo parecia meio bagunçado, meio sujo, mas era bonito. Ela sempre foi corajosa, e eu, criança, chamava de loucura a ousadia, a cabeça em pé diante do mundo, as roupas diferentes, as palavras fortes, os amigos excêntricos. Eu achava graça e tinha um pouco de vergonha por ela não ter nenhuma. Hoje, tempos e tempos passados, não sou mais aquela criança, embora seja. E, admirando o que antes me fazia corar, percebo que busquei, em muito de mim, ser igual a ela.

sexta-feira, 23 de março de 2012

É tanto que não cabe, extrapola. É tanto que dá medo. Muito, um excesso. Me tira de mim, sou outra. Sequestrada. E quero ser igual, mas sou maior. Do que eu. Por alguma razão. Não pedi, eu nem sabia. Força de dentro, avassaladora. O cordão é eterno, simplesmente é. Sentimento doido, mais complexo do que sempre ouvi, sempre li, sempre pensei. Isso não é amor, é também amor. Complexo por ser plural, por ser profundo, por não ter definição verbal. Mas vem fácil, como respirar. Não é coisa que se aprende, que se escolhe, é coisa que se sente, sem opção. E nada é tão bom. Só isso. Tudo isso.

Para Pedro Bem, meu grão de amor (roubando termo de Arnaldo Antunes).

terça-feira, 13 de março de 2012

Pule, menina, pegue impulso e salte. Entre, mergulhe. Mesmo com medo, se tiver vontade, desejo, se o coração mandar, obedeça e vá. Pé na frente, não atrás. Até aqui, pelo que sei, a vida é uma, essa aí, na sua mão. Pense, analise, mas não tente adivinhar. Só lá embaixo, lá dentro, no fundo, em pleno voo, você vai saber como é. Sinta, toque, ame, sofra, chore, chore de rir, ganhe, perca, sinta mais, aproveite. Quando, ou se, tiver que voltar, volte. E depois pule de novo: uma, duas, mil vezes.

sábado, 3 de março de 2012


Certo dia, depois de uma ideia, antes de um plano, o sonho encontrou a coragem e comecei a mudança. Não foi confortável, sair nunca é. Vim, mala cheia, cabeça também. Fui chegando, chegando. Me equilibrando. No curso do rio, Rio. Continuo chegando, até hoje. Gosto da sensação de seguir: pé, chão, passo, e ter um foco horizonte. Ser sempre meio do caminho, ida ou volta. E estou aqui, e estou lá. Moro aqui, sou de lá. Se quiser, posso trocar.