segunda-feira, 5 de novembro de 2012

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Pedro ri


Estou no quarto, dentro do computador, longe de mim, e escuto uma risadinha lá fora. Linda, de gente pequena, real. Outra, de novo. Ato contínuo, abro eu um sorriso. É Pedro, meu bem, meu filho. E o coração fica leve, doce, como se nunca tivesse sofrido. Felicidade é isso: um momento, um sorriso, dois. 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Hoje


Quero escrever na pele o que tenho, o que sinto.
Marcar no corpo o que jorra pelos poros, o que força de dentro pra fora, o que exige ser dito.
Quero dizer quem sou, quem estou. Hoje, agora.
Ontem fui outra, amanhã serei outra.
Quero passar, quebrar, romper minhas fronteiras, céus, ir além do mar.
Quero suportar, ficar leve, voar. E depois do salto, no ponto mais alto, me salvar.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012


Minha casa sou eu. Não tenho lugar, ou tenho todos. Faço meu qualquer onde. Onde estou, onde sonho, onde deito, onde amo, onde sinto. Por isso sei mudar, ser daqui e ser de lá. Procuro identificação, invento, encontro. Reconheço-me. Em tudo há algo de mim. E, assim, é fácil dizer adeus, trocar de chão, de céu, de horizonte. Outros sentimentos nascem, outras sensações pulsam. E eu ainda lá dentro, sempre, na minha casa de mim.

terça-feira, 12 de junho de 2012


O amor é bem, é bom, é dar, é dor. É mistura, é tempero, é frio e calor. Pega, solta, termina, volta, é espinho, é flor.
Briga, xinga, odeia e pede perdão. Quer muito, deseja, sonha, mas finge que não. Cai e levanta, desfaz e refaz, rico e pobre coração.

segunda-feira, 4 de junho de 2012



Ele pediu: “Não vá”; ela foi. Ele correu atrás, segurou; ela parou. De costas, perguntou: “Pra quê?”. Ele calou, e abraçou, e beijou. E ela repetiu: “Pra quê?”. “Amor”, ele sussurrou, tão baixo que quase não disse. “O seu amor? Por muito que seja, é pouco. Pra mim e pra você. Eu não amo mais. Ou tanto. Um não basta”. “Acabou assim?”. “E como seria? É só um fato, entre milhares de outros no mundo. Acabou como começou”. “Um fato como outro qualquer? Como um atropelamento?”. “Um fato corriqueiro da vida. Você vai sofrer agora e vai passar. E daqui a um tempo, talvez ache que nem era tão forte”. “E até lá?”. “Até lá você vai se tornar uma pessoa melhor, um homem mais experiente, mais vivido. O sofrimento pode ser bom”. “Foda-se”. “É um bom começo. A raiva ajuda a ter raiva e a ter mais raiva. Até que você tenha raiva de sentir isso por mim. E depois goste de novo, de outro jeito”. “Escrota”. “Lindo”. “Eu amo você, sua idiota. Olhe pra mim, fale na minha cara, vire”. “Eu já fui embora, não posso virar”. “Não”. “Sim, acredite. Eu já estive no seu lugar”. “Quanta frieza. Que merda”. “Quanto respeito”. “Fica, por mim, por favor”. “Não, por mim e por você. Ninguém ama por favor, ama-se por amor. E só”.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Começou a despir-se. Primeiro tirou os medos – pesados, difíceis de carregar. Depois foi descolando a ansiedade, que, pegajosa, acostumada demais a ser parte, sai aos poucos. Saiu. Viu que alguns preconceitos insistiam em ficar e arrancou-os à força. Livrou-se ainda da maioria das certezas, de alguma arrogância também. Picou em vários pedaços assimétricos todas as obsessões, manias. Soltou os freios. Jogou-se no vento, leve, livre. Virou borboleta.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Elizabeth


Nas imagens da casa onde nasci, lembrança, vejo minha irmã lendo num canto do quarto. Sempre, todo dia. Era assim. Livros empilhados por todos os lados. Tudo parecia meio bagunçado, meio sujo, mas era bonito. Ela sempre foi corajosa, e eu, criança, chamava de loucura a ousadia, a cabeça em pé diante do mundo, as roupas diferentes, as palavras fortes, os amigos excêntricos. Eu achava graça e tinha um pouco de vergonha por ela não ter nenhuma. Hoje, tempos e tempos passados, não sou mais aquela criança, embora seja. E, admirando o que antes me fazia corar, percebo que busquei, em muito de mim, ser igual a ela.

sexta-feira, 23 de março de 2012

É tanto que não cabe, extrapola. É tanto que dá medo. Muito, um excesso. Me tira de mim, sou outra. Sequestrada. E quero ser igual, mas sou maior. Do que eu. Por alguma razão. Não pedi, eu nem sabia. Força de dentro, avassaladora. O cordão é eterno, simplesmente é. Sentimento doido, mais complexo do que sempre ouvi, sempre li, sempre pensei. Isso não é amor, é também amor. Complexo por ser plural, por ser profundo, por não ter definição verbal. Mas vem fácil, como respirar. Não é coisa que se aprende, que se escolhe, é coisa que se sente, sem opção. E nada é tão bom. Só isso. Tudo isso.

Para Pedro Bem, meu grão de amor (roubando termo de Arnaldo Antunes).

terça-feira, 13 de março de 2012

Pule, menina, pegue impulso e salte. Entre, mergulhe. Mesmo com medo, se tiver vontade, desejo, se o coração mandar, obedeça e vá. Pé na frente, não atrás. Até aqui, pelo que sei, a vida é uma, essa aí, na sua mão. Pense, analise, mas não tente adivinhar. Só lá embaixo, lá dentro, no fundo, em pleno voo, você vai saber como é. Sinta, toque, ame, sofra, chore, chore de rir, ganhe, perca, sinta mais, aproveite. Quando, ou se, tiver que voltar, volte. E depois pule de novo: uma, duas, mil vezes.

sábado, 3 de março de 2012


Certo dia, depois de uma ideia, antes de um plano, o sonho encontrou a coragem e comecei a mudança. Não foi confortável, sair nunca é. Vim, mala cheia, cabeça também. Fui chegando, chegando. Me equilibrando. No curso do rio, Rio. Continuo chegando, até hoje. Gosto da sensação de seguir: pé, chão, passo, e ter um foco horizonte. Ser sempre meio do caminho, ida ou volta. E estou aqui, e estou lá. Moro aqui, sou de lá. Se quiser, posso trocar.